O Território é a Alma dos Povos Indígenas

O Território é a Alma dos Povos Indígenas

Desde que os portugueses desembarcaram no Brasil, a história dos povos indígenas tem sido marcada pela luta em defesa da posse de suas terras, ou seja, de seus territórios. Para os indígenas, a terra é a fonte de sustento, de onde retiram alimentos e matérias-primas para fabricar utensílios, adornos e medicamentos. Além disso, eles a consideram a moradia dos espíritos de seus antepassados, o que lhe confere um caráter sagrado. Portanto, é impossível para eles viver sem seu território.

O texto abaixo ilustra o valor que a terra tem para os povos indígenas:

 

A terra para Kaingang significa uma mãe. A terra é aquela que dá alimento e água, igual à mãe que oferece o alimento de seu corpo para o seu filho, enquanto que o branco pensa que a terra é um instrumentode gerar riqueza. Por isso é que ele não reconhece seu irmão, seu semelhante e discrimina cada vez mais aquele mais fraco que não tem condições de enfrentá-lo, de concorrer com ele. Nós não temos esta visão. Nós somos frutos dessa humanidade que tem muito amor pela natureza, muito amor pela terra (Pedro Sales, da nação Kaingang).

Fonte: HECK, Egon e PREZIA, Benedito. Povos indígenas: terra é vida. São Paulo: editoria Atual, 1999.

 

Cada povo indígena tem uma maneira própria de relacionar-se com a natureza, retirando de seu território o que é necessário para a sobrevivência do grupo. Veja alguns exemplos.

A pesca é uma das mais importantes atividades de subsistência desenvolvidas pelos desanos, que habitam, principalmente, as margens do rio Tiquié, no estado do Amazonas. Na época da piracema, os desanos constroem, junto às cachoeiras dos rios, armadilhas chamadas caiãs, que são grandes esteiras cercadas de madeira onde os peixes são encurralados e presos. Dessa maneira, conseguem pescar grande quantidade de peixes.

Diferentemente dos desanos, os ianomâmis, exímios caçadores, vivem basicamente da carne de mamíferos e de aves que habitam a floresta Amazônica. Para complementar a alimentação, fazem pequenas roças, onde cultivam mandioca, milho e banana.

Para os guaranis, que vivem no Sul e no Sudeste do país, e os maxacalis, que habitam o nordeste de Minas Gerais, não é possível viver da caça e da pesca, pois os ambientes naturais de suas regiões foram totalmente alterados pela sociedade brasileira. Atualmente, esses povos dependem da agricultura de subsistência que desenvolvem em suas terras, plantando basicamente milho, feijão e mandioca.

 

PENSE, PESQUISE E RESPONDA:

5 – Refletindo sobre a relação entre os povos indígenas e o restante da sociedade brasileira com a terra e os recursos naturais, podemos afirmar que ambos tratam a terra e a natureza como uma fonte sagrada de recursos? Justifique sua resposta.

 

6 – A SURVIVAL é uma entidade internacional e global que luta pelos direitos indígenas em todo o mundo. Acesse a página e saiba mais sobre eles: https://www.survivalinternational.org/pt. Com o objetivo de refletir sobre o conflito entre populações indígenas e a sociedade brasileira, assista o vídeo no link a seguir (https://www.survivalinternational.org/filmes/terrayanomami) e escreva sobre os seguintes pontos: qual é o conflito destacado? Quais são os impactos deste conflito sobre a população indígena Ianomâmi? E como a população Ianomâmi trata a terra em que habitam?

 

SAIBA MAIS!

 

Urihi, a terra-floresta

A palavra yanomami urihi designa a floresta e seu chão. Significa também território: ipa urihi, "minha terra", pode referir-se à região de nascimento ou à região de moradia atual do enunciador; yanomae thëpë urihipë, "a floresta dos seres humanos", é a mata que Omama deu para os Yanomami viverem de geração em geração; seria, em nossas palavras, "a terra yanomami". Urihi pode ser, também, o nome do mundo: urihi a pree, "a grande terra-floresta", uma geografia cosmológica.

Fonte de recursos, urihi, a terra-floresta, não é, para os Yanomami, um simples cenário inerte submetido à vontade dos seres humanos. Entidade viva, ela tem uma imagem essencial (urihinari), um sopro (wixia), bem como um princípio imaterial de fertilidade (në rope).

Os animais (yaropë) que abriga são vistos como avatares dos antepassados míticos homens/animais da primeira humanidade (yaroripë) que acabaram assumindo a condição animal em razão do seu comportamento descontrolado, iinversão das regras sociais atuais. Nas profundezas emaranhadas da urihi, nas suas colinas e nos seus rios, escondem-se inúmeros seres maléficos (në waripë), que ferem ou matam os Yanomami como se fossem caça, provocando doenças e mortes. No topo das montanhas, moram as imagens (utupë) dos ancestrais-animais transformadas em espíritos xamânicos xapiripë.

Os xapiripë foram deixados por Omama para que cuidassem dos humanos. Toda a extensão de urihi é coberta pelos seus espelhos onde brincam e dançam sem fim. No fundo das águas, esconde-se a casa do monstro Tëpërësik«, sogro de Omama, onde moram também os espíritos yawarioma, cujas irmãs seduzem e enlouquecem os jovens caçadores yanomami, dando-lhes, assim, acesso à carreira xamânica.

Fonte: ARARA. Yanomami. Disponível em: https://www.arara.fr/BBTRIBOYANOMANI.html. Acessado em: 14/12/2013.

 

 

Seção baseada nos textos dos livros: BOLIGIAN, Levon e outros. Geografia – Espaço e Vivência. A organização do espaço brasileiro. 7° ano. São Paulo: Editora Atual, 2009 e ARAUJO, R. e outros. Construindo a geografia – O Brasil e os brasileiros. São Paulo: Editora Moderna, 2005.