As aldeias e a organização dos territórios indígenas

As aldeias e a organização dos territórios indígenas

Uma marca importante da diversidade cultural existente entre as sociedades indígenas é maneira como cada uma organiza sua aldeia. O número de casas, o material utilizado na construção, a forma como são organizadas e a distância entre a roça e a aldeia, que pode ser de até uma hora a pé, variam entre os povos indígenas. No entanto, uma característica é bastante comum: quase todas as aldeias se localizam próximo a um rio, que fornece água e peixes para a comunidade. Vamos conhecer as aldeias de alguns povos indígenas.

 

A aldeia tradicional Kaiapó é construída de forma circular, delimitando um grande pátio, no centro do qual se destaca a casa de reunião dos homens. Para a construção das moradias são utilizados cipós, madeiras, fibras e folhas de palmeiras. Na foto abaixo, observa-se uma aldeia Kaiapó localizada no sul do Pará.

Fonte: POVOS INDÍGENAS DO BRASIL. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo/186. Acessado em: 14/12/2013.

 

As aldeias do povo Uaiuai reúnem moradias tradicionais – ovaladas, com paredes e cobertura feita com folhas de palmeiras – e construções no padrão das casas das populações ribeirinhas, em forma retangular, com paredes de madeira e cobertura de zinco. Na foto a seguir, uma aldeia Uaiuai no noroeste do Pará.

Fonte: HORIZONTE GEOGRÁFICO. A reconquista da terra. Disponível em: https://horizontegeografico.com.br/exibirMateria/277. Acessado em: 14/12/2013.

 

7 – Pensando sobre a organização dos territórios indígenas, podemos afirmar que a organização do espaço respeita as necessidades do povo que o habita? Justifique a sua resposta.

 

8 – As comunidades indígenas que conservam seu modo de vida tradicional precisam viver em lugares que forneçam alimentos (frutos, caça e pesca) e que tenham bons solos para formar uma roça. Quando esses recursos se tornam escassos, toda a aldeia se muda para outra área, onde haja fartura. Na área abandonada, a natureza se recupera e, alguns anos depois, pode ser ocupada novamente. Por essa razão, os territórios indígenas devem ter dimensões que permitam a preservação de seu modo de vida e de sua cultura. Com base nessas informações, nos mapas e nos vídeos indicados nesta ficha, comente sobre a extensão das áreas demarcadas e reivindicadas pelos povos indígenas no Brasil.

 

SAIBA MAIS!

 

A casa/aldeia

Os grupos locais yanomami são geralmente constituídos por uma casa plurifamiliar em forma de cone ou de cone truncado chamado yano ou xapono (Yanomami orientais e ocidentais), ou por aldeias compostas de casas de tipos retangulares (Yanomami do norte e nordeste).

Cada casa coletiva ou aldeia se considera como uma entidade econômica e política autônoma (kami theri yamaki, "nós co-residentes") e seus membros preferem, idealmente, casar-se nesta comunidade de parentes com um(a) primo(a) "cruzado(a)", ou seja, o(a) filho(a) de um tio materno e uma tia paterna. Esse tipo de casamento é reproduzido o quanto possível entre as famílias numa geração e de geração em geração, fazendo da casa coletiva ou aldeia yanomami um denso e confortável emaranhado de laços de consanguinidade e afinidade.

 

Casa coletiva | Foto: Joachim Bernauer © Amazônia Teatro música/ Hutukara Associação Yanomami

Fonte: AMAZÔNIA. Os Yanomamis. Disponível em: https://www.goethe.de/ins/pt/lis/prj/ama/cam/jug/pt6387107.htm. Acessado em: 14/12/2013.

 

O espaço social inter-aldeão

Porém, apesar desse ideal autárquico, todos grupos locais mantêm uma rede de relações de troca matrimonial, cerimonial e econômica com vários grupos vizinhos, considerados aliados frente aos outros conjuntos multicomunitários da mesma natureza. Esses conjuntos superpõem-se parcialmente para formar uma malha sócio-política complexa, que liga a totalidade das casas coletivas e aldeias yanomami de um lado ao outro do território indígena.

O espaço social fora da casa coletiva ou da aldeia, consideradas como mônadas de parentesco próximo, é tido com desconfiança como o universo perigoso dos "outros" (yaiyo thëpë): visitantes (hwamapë), que, nas grandes cerimônias funerárias e de aliança intercomunitária reahu, podem causar doenças usando de feitiçaria para se vingar de insultos, avareza ou ciúme sexual; inimigos (napë thëpë), que podem matar, atacando a aldeia como guerreiros (waipë) ou feiticeiros (okapë); gente desconhecida e longínqua (tanomai thëpë), que pode provocar doenças letais mandando espíritos xamânicos predadores ou caçar o duplo animal rixi das pessoas (os rixi vivem nas matas remotas, longe de seu duplo humano); enfim, os "brancos" (napëpë), categoria paradoxal de estrangeiros (inimigos potenciais) próximos, diante dos quais temem-se as epidemias (xawara) associadas às fumaças produzidas por suas "máquinas" (maquinários de garimpo, motores de aviões e helicópteros) e à queima de suas possessões (mercúrio e ouro, papéis, lonas e lixo).

 

O uso dos recursos

O espaço de floresta usado por cada casa-aldeia yanomami pode ser descrito esquematicamente como uma série de círculos concêntricos. Esses círculos delimitam áreas de uso de modos e intensidade distintos.

O primeiro círculo, num raio de cinco quilômetros, circunscreve a área de uso imediato da comunidade: pequena coleta feminina, pesca individual ou, no verão, pesca coletiva com timbó, caça ocasional de curta duração (ao amanhecer ou ao entardecer) e atividades agrícolas. O segundo círculo, num raio de cinco a dez quilômetros, é a área de caça individual (rama huu) e da coleta familiar do dia-a-dia.

O terceiro círculo, num raio de dez a vinte quilômetros, é a área das expedições de caça coletivas (henimou) de uma a duas semanas que antecedem os rituais funerários (cremações dos ossos, enterros ou ingestões de cinzas nas cerimônias intercomunitárias reahu), bem como das longas expedições plurifamiliares de coleta e caça (três a seis semanas) durante a fase de maturação das novas roças (waima huu). Encontram-se também nesse "terceiro círculo" tanto as roças novas quanto as antigas, junto às quais se acampa esporadicamente – para cultivar nas primeiras, colher nas segundas – e em cujos arredores a caça é abundante.

Os Yanomami costumavam passar entre um terço e quase a metade do ano acampados em abrigos provisórios (naa nahipë) em diferentes locais dessa área de floresta mais afastada da sua casa coletiva ou aldeia. Esse tempo de vida na floresta tende a diminuir quando se estabelecem relações de contato regular com os brancos, dos quais os Yanomami ficam dependentes para ter acesso a remédios e mercadorias.

Fonte: ARARA. Yanomami. Disponível em: https://www.arara.fr/BBTRIBOYANOMANI.html. Acessado em: 14/12/2013.