Por detrás do lúdico: criatividade, espontaneidade e liberdade

28/08/2011 23:50

 

 

Para muitos, o século XXI é considerado o século da ludicidade. Vivem-se tempos de diversão, lazer, entretenimento cada vez mais imediatos e próximos dos indivíduos pertencentes à sociedade do consumo, o que torna a dimensão lúdica objeto de desejos e atenções cotidianamente. Mas, será isso a forma mais adequada de consideração do lúdico como experiência de vida?

Buscando inspirações na ciência, o lúdico pode ser visto como um estado de espírito que na dimensão humana evoca os sentimentos de liberdade e espontaneidade de ação. Abrange atividades despretensiosas, descontraídas e desobrigadas de toda e qualquer espécie de intencionalidade ou vontade alheia. É livre de avaliações e pressões, está fora do alvo espetaculoso. O lúdico é gratuito e promove a relação entre indivíduo e coletividade nas práticas sociais.

Em resumo, viver ludicamente significa uma forma de intervenção no mundo, que nos indica que não apenas estamos inseridos no mundo, mas, sobretudo, que somos ele. Logo, assumir um protagonismo lúdico é lançar mão de estratégias cotidianas baseadas na subversão, criatividade e espontaneidade. Esse protagonismo lúdico pode ser visto nos artistas de rua, nas ações espontâneas de amor, nas invenções para decifrar o mundo e as coisas, nas brincadeiras infantis. O lúdico envolve CRIAÇÃO, AMOR, ESPONTANEIDADE, LIBERDADE, REBELDIA e VIDA. Neste transcorrer de pensamentos, o que pretendo dizer sobre o lúdico?

No último dia 27 de agosto de 2012, realizou-se mais uma edição da Feira de Arte e Cultura do Colégio Brasileiro de São Christovão. Alunos, professores, pais e demais da comunidade escolar expuseram seus trabalhos buscando contribuir diretamente para um tema síntese: ALERTA TERRA: TODOS SOMOS UM. Diferentes temáticas foram abordadas, da proteção da natureza ao cuidado com alimentação e saúde; da agroecologia a qualidade de vida nas grandes cidades; do respeito à diversidade e alteridade a promoção do voluntariado. Inúmeras formas criativas foram utilizadas para tornar concreta a essência dos trabalhos.

Durante a feira, num passeio contemplativo por barracas cuidadosamente ornamentadas e exposições criteriosamente pensadas, alunos e professores conseguiram transformar a ciência e as práticas sociais em atividades lúdicas de promoção da vida, da cooperação, da comunicação e da ajuda mútua. A feira foi uma experiência maravilhosa ao presenciar crianças e adolescentes derivando idéias e práticas de COMPAIXÃO, GENTILEZA, SAÚDE, VOLUNTARIADO, RESPEITO e PARTICIPAÇÃO. Pais e professores, orgulhosos, rumavam pelos corredores avaliando, construindo, vivendo experiências que, para muitos, não são corriqueiras. Fotos, desenhos, cartazes, palavras, expressão corporal davam o tom do evento.

Mais do que descrevê-la, é preciso refletir sobre seus sentidos. Portanto, o que presenciamos na feira de arte e cultura deste ano, não pode ser visto como uma das formas primazes de LUDICIDADE construídas por mentes em formação e em transformação? Será que a ludicidade não sensibiliza corações e transformar mentes adultas (ditas já formadas)? O lúdico não pode ser visto como algo maior do que o simples entretenimento e diversão? As experiências vividas na feira, como a palhaçaria, as brincadeiras, as palavras de GENTILEZA proclamadas, a CRIATIVIDADE dos desenhos, dos ornamentos e das fantasias não superaram o ideal do espetaculoso e da competição? Eis questões para tornar o lúdico um caminho para a integração e sociabilidade no mundo em que vivemos.